sábado, 6 de agosto de 2011

Hiroshima - 06 Ago 1945 - A Bomba Atômica

 HISTÓRIAS


 Hiroshima
 06 Ago 1945 - A Bomba Atômica
    Hiroshima - The Atomic Bomb
O dia 6 de Agosto de 1945 amanheceu claro e quente em Hiroshima, sétima maior cidade do Japão, com 343 mil habitantes e uma guarnição militar de 150 mil soldados. Hiroshima fica junto ao delta do rio Ota, que desemboca no mar Interior. 


Naquela segunda-feira, apesar da guerra travada nas ilhas do oceano Pacífico contra os Estados Unidos da América, a vida corria como sempre: os comerciantes já tinham aberto as lojas, os estudantes estavam nas salas de aula, os escritórios e as fábricas funcionavam a pleno vapor.

Pouco antes das 8 horas da manhã, tocou a sirene avisando a presença de aviação inimiga. Um alerta então corriqueiro. Pouca gente correu para os abrigos antiaéreos. A sirene parou. Às 8:15, bem alto no céu, surge uma faísca branco-azulada que se transforma num arco rosado. Em décimos de segundo, Hiroshima (Ilha Larga, em japonês) fica branca. Prédios e casas levitam. Pessoas e animais evaporam; telhados e tijolos derretem. Uma onda de calor de 5,5 milhões graus Celsius e ventos de até 385 km/h arrasam a cidade.

As estimativas do primeiro massacre por armas de destruição em massa, apontam para 140 mil mortes em Hiroshima. Estima-se um número de vítimas consideravelmente maior quando se consideram aqueles que pereceram posteriormente por exposição à radiação. A imensa maioria de mortos era de civis.

A escolha dos alvos foi realizada a partir de interesses militares, mas principalmente de cunho político-econômico, uma vez que tanto Hiroshima como Nagasaki eram as regiões mais desenvolvidas industrialmente do Japão, na época.

O dia 6 foi escolhido por haver ocorrido anteriormente alguma formação de nuvens sobre o alvo. No momento da decolagem, o tempo estava bom e tanto a tripulação como o equipamento funcionaram adequadamente.

O bombardeiro B-29 Enola Gay, nome da mãe do piloto, Coronel Paul Tibbets, partiu da Base Aérea de Tinian no Pacífico Oeste, a 6 horas de vôo do Japão. O capitão da Marinha, William Parsons, armou o artefato nuclear durante o vôo.
O ataque foi executado de acordo com o planejado nos mínimos detalhes, e a bomba de gravidade, uma arma de fissão de tipo balístico com 60 kg de Urânio-235, comportou-se precisamente como esperado.

O avião aproximou-se da costa a grande altitude. As 8:00 o operador de radar em Hiroshima concluiu que o número de aviões que se aproximavam era muito pequeno,  não mais do que três, e o alerta de ataque aéreo foi suspenso. Para poupar combustível, os japoneses decidiram não interceptar formações aéreas pequenas, que presumiam ser na sua maioria, aviões meteorológicos ou de reconhecimento.

As três aeronaves em aproximação eram o “Enola Gay”, o “The Great Artist” (O Grande Artista) e um terceiro avião ainda sem nome, mas que viria a ser mais tarde batizado de “Necessary Evil” (Mal Necessário).

O primeiro transportava a bomba, o segundo iria gravar e supervisionar toda a missão, e o terceiro estava encarregado de fotografar e filmar a imensa explosão.

No rádio foi comunicado à população que talvez fosse aconselhável se recolherem aos abrigos antiaéreos no caso dos B-29 serem avistados, embora nenhum ataque fosse esperado, apenas uma missão de reconhecimento aéreo.

Às 8:15 o Enola Gay lançou a bomba nuclear sobre o centro de Hiroshima. Ela explodiu a cerca de 600 metros do solo, com uma explosão de potência equivalente a 13 kilotons de TNT, matando instantaneamente um número estimado entre 70.000 e 80.000 pessoas. Pelo menos 11 prisioneiros de guerra dos EUA também foram mortos

Estima-se que 90% de todos os edifícios tenham sido danificados ou completamente destruídos.
A percepção dos Japoneses ao ataque.

Um operador da Japanese Broadcasting Corporation, em Tóquio, notou que a estação de Hiroshima havia saído do ar. Tentou restabelecer o seu programa usando uma outra linha telefônica e esta também não deu sinal. Vinte minutos depois, o centro telegráfico de Tóquio verificou que a principal linha do telégrafo estava fora de operação a partir da região norte de Hiroshima. De algumas estações telegráficas ferroviárias situadas 16 quilômetros Hiroshima, chegavam notícias não oficiais e confusas de uma terrível explosão no centro da cidade.

O Quartel-General do Estado-Maior japonês e suas bases militares tentaram repetidamente contatar a Estação de Controle do Exército em Hiroshima, sem sucesso. O silêncio completo daquela cidade confundiu os militares. Supunham não haver ocorrido nenhum grande ataque inimigo.

Um jovem oficial do Estado-Maior japonês foi instruído a voar imediatamente a Hiroshima para pousar, observar os danos, regressar a Tóquio e apresentar um relatório ao Estado-Maior. A expectativa do Quartel-General era de que nada de maior importância acontecera e de que tudo não passava de mera boataria.

O oficial decolou em seu avião, rumo a sudoeste. Após o vôo de três horas, a uma distância de 160 km de Hiroshima, ele e o seu piloto viram uma imensa nuvem de fumaça da bomba. Os restos de Hiroshima ardiam. O avião deu várias voltas sobre a cidade e ambos os militares não conseguiram acreditar no que viam. 

Hiroshima era uma enorme cicatriz ardente a céu aberto, coberta por uma densa nuvem de fumo. Poucas, ou quase nenhuma de suas construções ainda restavam de pé. 
Aterrissaram ao sul da cidade e o oficial, após contatar Tóquio, começou a organizar as primeiras medidas de socorro.

De acordo com a cidade de Hiroshima, em 2005 o número total de mortos entre as vítimas da bomba era de 242.437. Essa contagem considera todas as pessoas que estavam na cidade quando a bomba explodiu, ou que mais tarde, expostas radiação, acabaram morrendo.
O papel do bombardeio nuclear na rendição do Japão, assim como seus efeitos e justificações, foram e são até hoje, objeto de controvérsia. Nos EUA, o ponto de vista predominante é que a bomba antecipou o fim da guerra em vários meses, salvando muitas vidas que seriam perdidas em ambos os lados se a invasão planejada do Japão tivesse ocorrido. No Japão, o público em geral tende a crer que o uso da bomba atômica foi desnecessário, uma vez que a preparação para a rendição já estava em progresso em Tóquio.

Os EUA consideraram três alternativas e seus cenários, para por fim à guerra com o Japão:

A primeira, invadir o Japão, estimava o custo de mais de meio milhão de vidas americanas.

A segunda, não exigir a rendição incondicional, negociado-se a paz com o Japão.

A terceira alternativa, seria permitir uma invasão pelos exércitos da União Soviética, o que iria reduzir consideravelmente a influência dos EUA na política do pós-guerra.

Os cientistas que desenvolveram a bomba discutiram o assunto. Alguns consideraram errado o lançamento da bomba sem aviso prévio e apoiaram uma explosão demonstrativa para convencer o Japão a render-se.

Na opinião do líder dos cientistas, Oppenheimer, tal era muito incerto e arriscado. Só o choque da bomba sendo lançada em uma cidade forçaria o Japão a render-se. O presidente Truman concordou.

O destino estava selado e naquele fatídico 6 de Agosto de 1945 os Estados Unidos lançaram a bomba sobre Hiroshima. Em 8 de Agosto a URSS declarou guerra ao Japão, e no dia seguinte os EUA lançaram outra bomba atômica ainda mais potente sobre Nagasaki.
2 de Setembro de 1945. O governo japonês, que havia jurado lutar até à morte, declarou a rendição incondicional.
Deveriam os Estados Unidos da América lançar a bomba? Críticos da decisão censuram a imensa perda de vidas humanas indefesas. Consideram que qualquer das demais alternativas teria sido preferível. Outros pensam que apenas a bomba, da forma como foi utilizada, poderia ter terminado a guerra. Acima de tudo, ambos concordam que tal feito salvou inúmeras vidas americanas. A bomba também impediu a invasão soviética do Japão e propiciou aos EUA uma enorme influência no mundo pós-guerra. 

Para que não haja dúvidas acerca disto, Truman escreveu mais tarde: "Eu considerei a bomba como uma arma militar e nunca tive dúvidas de que ela deveria ser usada."

Após o desastre, Hiroshima construiu museus e memoriais para honrar as vítimas. O local do epicentro da explosão abriga hoje o Parque Memorial da Paz, idealizado pelo renomado arquiteto japonês Kenzo Tange. Às margens do rio Motoyasu, onde foram criados os jardins, encontra-se a Cúpula Genbatsu, uma estrutura que resistiu às explosões, tornando-se um marco na cidade e  para os sobreviventes. O complexo conta  ainda com um museu, que mostra as ruínas e os objetos que sobraram, como um relógio com os ponteiros parados na hora da explosão, às 8h15 da manhã. O parque tornou-se patrimônio mundial da Unesco, em 1996.

Os sobreviventes do bombardeamento são chamados de hibakusha, uma palavra japonesa que é traduzida literalmente por "pessoas afectadas por bomba". O sofrimento causado pelo bombardeamento foi a raiz do pacifismo japonês do pós-guerra, tendo este país, desde então, procurado a abolição completa das armas nucleares em nível mundial. Em 2006, havia cerca de 266.000 hibakusha ainda vivendo no Japão.

Relato pessoal de um morador de Hiroshima, sobrevivente da bomba atômica.

“Desejo apagar esta repugnante e desagradável lembrança de minha memória. O seis de agosto vem de novo este ano (1993), como sempre. Sei que esta é a minha última chance para registrar o que sofri. 

No fatídico dia de 6 de agosto de 1945, eu era um terceiroanista do Departamento de Ciências, Faculdade de formação de professores de Hiroshima (hoje em dia, a licenciatura em matemática da Universidade de formação de Professores de Hiroshima). Em meados do meu primeiro ano (1943), ouvíamos muitas vezes que as condições da guerra estavam piorando e que a frente de guerra estava se expandindo sem limites. Quase todos os estudantes foram recrutados para o exército. Mas ainda havia alguns na faculdade, pois éramos aspirantes a Professores no futuro. Mas a situação mudou gradualmente. Estudantes de ciências humanas foram também recrutados, somente deixaram ficar os estudantes de ciências naturais como nós. 

A guerra continuou a piorar. Finalmente fomos mobilizados em abril, como trabalhadores no estaleiro Mitsubishi na vila de Eba, na cidade de Hiroshima. O estaleiro construía transportes de tropas da classe de 10.000 toneladas. A primeira tarefa que me foi designada foi a de soldar placas de aço, usando volumosos macacões feitos de um tecido duro, contendo chumbo. Mas depois de um pouco, fui transferido para uma posição de treinamento para estudantes do ginásio Shudo e do curso secundário da Escola de Comércio de Hiroshima. Nosso alojamento era um hotel chamado Kinsuikan, situado em Miyajima, um local famoso por sua paisagem. Íamos diariamente ao estaleiro de barco. Levava uma hora para irmos. Estávamos sempre expostos aos perigos de ataques aéreos feitos por caças saindo dos porta-aviões americanos e ao contato com minas. Tínhamos prontos pedaços de tábuas de madeira no barco, para substituir os coletes salva-vidas. Duas horas gastas no ir e vir eram preciosas para descansar e ler livros. Quanto a comida, estávamos sempre com fome. Arroz misturado com soja triturada, ou bolinhos de Eba feitos de trigo moído e estragão eram uma festa para nós. 

O seis de agosto 

Saímos do porto de Miyajima e chegamos ao estaleiro de Eba uns poucos minutos depois das oito horas, como sempre. Estava quente e o céu limpo, sem nuvens. Pouco antes das oito, uma sirene de ataque aéreo soou. Nos abrigamos enquanto reclamávamos, porque já estávamos acostumados à sirene. Logo o alerta foi cancelado. O encontro da manhã foi feito como sempre e uma chamada dos alunos do ginásio foi feita também. Fui até o segundo andar acertar alguns papéis. Estava conferindo a presença dos alunos enquanto mantinha minhas costas diretamente para o epicentro. De repente, uma luz azulada brilhou como um arco voltaico, como a luz de uma máquina de solda, ou como magnésio queimando. O mundo ficou branco. 

De forma instintiva, pensei que tivesse havido um grande acidente na companhia de fornecimento de gás no distrito de Kannon ou na subestação transformadora em Misasa. Corri para a janela que estava bem aberta ao exterior, para ventilar. Olhei na direção do possível acidente. Observei uma nuvem amarela-avermelhada subindo como fogo de artifício, alto para o céu, cercada por fumaça negra como carvão. (Naquela época, como não tinha idéia do que seria uma bomba atômica, nunca imaginaria que uma nuvem de cogumelo estava para surgir). No mesmo momento, de longe, casas voavam um pouco e então caiam, esmagando-se no chão como peças de um jogo de dominó. Era igual a branca arrebentação de uma onda, vindo em minha direção, enquanto ficava em pé na praia. A onda se aproximou de forma inabalável (mais tarde, isto seria chamado de onda de choque da explosão). Me senti terrível pela primeira vez. Tinha que fazer alguma coisa, o segundo andar onde estava logo seria esmagado. Um amigo próximo, o Sr. Soma ou o Sr. Yoshikawa gritaram algo. Corri para debaixo da mesa e segurei a respiração, esperando que alguma coisa acontecesse. Em apenas alguns segundos eu vi o relâmpago e me enfiei debaixo da mesa. 

Então, de repente, o chão desabou com um imenso som. Uma maciça nuvem de poeira se levantou. Naquele momento, eu congelei. Senti que a bomba tinha explodido logo na minha frente. Mas nenhum explosão aconteceu. Senti sem sombra de dúvida que a bomba era uma granada cegante e arrastei-me lentamente. Descobri que o chão tinha desabado com a explosão. 

Meu amigo gritou: “seu olho direito está ferido!” Toquei meu olho e somente senti um monte de sangue na minha palma. Mas não sentia nenhuma dor. A explosão tinha arrebentando os caixilhos das janelas em pedacinhos e estilhaços devem ter penetrado minha sobrancelha. O sangue correndo tinha caído no meu olho e perdi a visão. Apoie-me no ombro do meu amigo para correr para a sala de enfermaria do escritório, cambaleando. Surpreendentemente, duzentas ou trezentas pessoas já estavam na fila. Quase todos tinham sofrido queimaduras. Mais tarde soube que muitas das pessoas na fila tinham morrido. Tive sorte no meu azar, pois não fiquei exposto diretamente à explosão. Todos os ferimentos eram na minha face. Todas as tentativas de parar com o sangramento falharam. O sangue continuar a fluir. Minhas roupas estavam de tal forma manchadas pelo sangue derramado que poderiam dar a impressão que estava gravemente ferido. Fui levado para a frente da fila e fizeram quatro pontos, depois de desinfetarem de forma rápida a ferida. Quanto sorte tive. Meus olhos estavam bem. Só quando minha sobrancelha foi cortada, a pele caiu e o sangue entrou no olho, causando uma cegueira temporária. 

Foi dito que não havia maneiras de ajudar as vítimas de queimadura, só aplicar ungüento branco. Então fui colocado em uma tábua de madeira e deixado no chão de um prédio que estava inclinado pelo sopro da explosão. No meu peito estava uma etiqueta de papel em que estava escrito o meu nome, local de nascimento, idade e tipo sangüíneo. Ao meu redor estavam muitas vítimas de queimadura, gemendo de dor. A pele das pessoas vivas estava apodrecendo e soltando um cheiro intolerável. As pessoas estavam agonizando e morrendo lentamente, gemendo “ai, ai, água, água”. Fui deixado entre eles. Não sabia ao certo que horas eram, mas uma vez vi um céu azul sem nuvens, coberto por uma nuvem negra como carvão na direção de Koi e parecia que era uma chuva torrencial. Por volta das três da tarde, o ferry Enamimaru chegou para nos apanhar. Voltei aos meus alojamentos em Miyajima. Na manhã seguinte, o dia sete de agosto, as pessoas saudáveis foram para Hiroshima para limpar a cidade. Mas deixou-se que os feridos descansassem nos alojamentos. 

O oito de agosto 

Hoje, fui ao estaleiro em Eba, junto com alguns amigos meus. Meu rosto estava quase que totalmente embrulhado em bandagens, exceto o meu olho esquerdo. Então fui ao centro de Hiroshima. Como não haviam meios de transporte, tive que fazer toda a distância a pé. Primeiro visitei o Sr. Matsuoka, no distrito Minami Kan-non, onde estava me hospedando. Nada restava lá. Mandado pelos ares ou queimado, não sabia. Não havia nenhum traço. Naturalmente, minhas coisas, tais como cama, livros e outras coisas, não existiam. Não sabia se meu tio e minha tia Matsuoka tinham sobrevivido ou não. Mesmo hoje, não sei de seus destinos. Não tinha escolha, a não ser perambular até a escola em Higashisendamachi. Tanto quanto a vista alcançava, tudo estava totalmente incinerado em cinzas. Somente muros destruídos de concreto pontilhavam a paisagem. A esquerda e direita havia incontáveis corpos, ainda não removidos. Algumas pessoas olhavam os cadáveres, procurando seus parentes. Outros empilhavam a madeira meio queimada das casas, para incinerar os restos. Fiquei vagando pela cidade, cheia dos cheiros da morte. 

Quando cheguei à ponte, soldados das tropas Akatsuiki estavam retirando um imenso número de cadáveres do fundo do rio, usando barcos de desembarque. Todos corpos estavam completamente nus. Alguns cadáveres permaneciam com as mão para cima, outros com as pernas torcidas em agonia. Estavam inchados pela água, branco-pálidos. A cena era muito lúgubre para lembrar, mesmo hoje em dia. 

Finalmente cheguei à faculdade, passando pela ponte Takano. Todos os prédios de madeira da faculdade e os dormitórios estavam totalmente queimados, em ruínas. Somente a biblioteca na direita e a estrutura externa dos prédios do laboratório de ciências, nos fundos, foram poupados. Ao lado da entrada da frente, o corpo queimado de um cavalo fora deixado, exalando um odor insuportável. 

Percebendo que nada restara, fui até o endereço calcinado dos Hasimotos, meus amigos, cujo os maridos foram para a guerra e somente as mulheres haviam ficado. Como os tinha ajudado a construir um abrigo de bombas subterrâneo e colocado coisas importantes lá, me preocupava com eles. 

Fiquei mais calmo ao achar provas de coisas enterradas terem sido escavadas, pois isto era um sinal que meus amigos tinham sobrevivido. (Muitos anos atrás, fui a Hiroshima, mas lá não havia pistas para perguntar sobre o destino da família Hashimoto). 

Então caminhei para Shiragamisha, pela avenida do bonde, para obter na praça municipal um certificado de flagelado. Não me preocupava de forma alguma com a minha cara miserável, embrulhada em bandagens, pois quase todas as pessoas estavam feridas e também perambulavam pelas ruas como zumbis em bandagens. Um bonde queimado, somente com a estrutura de aço restando, estava largado no meio da rua. Postes elétricos estavam inclinados e fios queimados balançavam dentro da janela. 

Virei a esquerda no cruzamento do quarteirão Kamiya e caminhei pelos destroços do Pavilhão de Promoção Industrial da Prefeitura de Hiroshima (depois chamado de cúpula da Bomba Atômica), a ponte em forma de T de Aioi, Dobashi e o distrito de Fukushima. Continuei a caminhar em direção ao distrito Ibi.

Tão longe quanto a vista alcançava, toda a cidade estava queimada até as cinzas, pontilhada de muros de concreto que antes tinham sido prédios. Chapas de zinco queimadas soltavam rangidos nas janelas radioativas. Passei pelas ruínas e destroços, evitando os corpos dos mortos, cobertos com tapetes. 

Finalmente cheguei à estação Ibi passando pela cidade morta, onde não havia sinais de uma só vida, apenas o cheiro dos cadáveres. Peguei um bonde em Miyajima e voltei para o hotel. Caminhei ao redor da cidade morta por oito dias, várias horas todos os dias. Como fui bobo. Me arrependo de meu comportamento tolo de perambular. 

Nunca mais. Não desejo ver de novo tal inferno na terra. Não desejo mesmo me lembrar dele. Este é o limite do que posso descrever. 

Deixem-me dizer uma última palavra: agora é um mundo pacífico. Vivemos em riqueza material e liberdade de palavra. As vezes acho estranho: porque estou vivo? Provavelmente posso estar “ficando vivo”. Só tenho um sentimento de gratidão, nenhuma reclamação ou insatisfação. Sempre agradeço a sociedade. Gostaria de dar alguma coisa de volta à sociedade.”

Takeharu Terao 


"Que as almas descansem em paz, pois jamais repetiremos o mesmo erro outra vez."

Inscrição no cenotáfio do memorial do Parque da Paz em Hiroshima 


Vídeo: Bomba Atômica de Hiroshima - Fantástico, 1976



Fontes:
http://www.coara.or.jp
http://pt.wikipedia.org
http://pt.worldwar-two.net
http://www.grandesguerras.com.br

Um comentário:

  1. Há datas que ninguém devia esquecer. Hoje pus mais umas imagens retiradas daqui no meu face. Entretanto viva o espírito olímpico.

    ResponderExcluir