sexta-feira, 14 de outubro de 2011

U-513 - A Última Patrulha de um Lobo Cinzento

 HISTÓRIAS


 U-513 A Última Patrulha 
 de  um  Lobo  Cinzento
   U-513 - The Last Patrol of a Gray Wolf
O U-513 foi um U-Boot (Unterseeboot- Submarino) alemão do tipo IXC de longo alcance lançado ao mar em Outubro de 1941 e comissionado pela Kriegsmarine em Janeiro de 1942 sob o comando do capitão de corveta Rolf Rüggeberg.
Rüggeberg foi comandante da embarcação por 159 dias dos 222 dias em que a belonave esteve em ação no Atlântico.

O Capitão-tenente Karl Friedrich Guggenberger, de 28 anos, sucedeu Rüggeberg e conduziu o submarino em uma única (e que seria a última) patrulha de 62 dias.
Guggenberger, apesar de jovem, já era um herói de guerra na Alemanha. Havia sido condecorado pelo próprio Adolf Hitler com a Cruz de Ferro por haver afundado em 1941 o porta-aviões britânico Ark Royal.
Em 18 de Maio de 1943 ele partiu com a missão de patrulhar o Atlântico Sul e no final do mês foi reabastecido pelo U-460 para continuar suas operações junto à costa do Brasil.
O Ark Royal afundado por Guggenberger
Guggenberger, deveria afundar qualquer navio aliado na rota entre Buenos Aires e o Rio de Janeiro

A sudeste do Rio de Janeiro em 21 de Junho de 1943, o U-513 localizou o cargueiro de bandeira sueca SS Venezia (1.673 toneladas), afundando-o.
Melhor sorte teve o navio-tanque SS Eagle (6.003 toneladas) que apenas foi danificado em seu ataque.
Quatro dias depois, um avião que patrulhava a costa do Brasil com a missão de localizar o U-199 acabou encontrado os dois submarinos do eixo, porém ambas as embarcações conseguiram escapar incólumes.

Em 01 de Julho de 1943 rumou para o sul, afundando o cargueiro brasileiro SS Tutóia (1.125 toneladas) ao sul de São Vicente.
Dois dias depois, seus torpedos colocaram a pique o cargueiro norte-americano SS. Elihu B. Washburne (um Liberty Ship de 7.176 toneladas) perto da ilha de São Sebastião.
No dia 16 de Julho o U-513 obteve mais uma vitória ao atacar o cargueiro norte-americano SS Richard Caswell (7.177 toneladas).
Três dias depois, um hidroavião PBM 5 Mariner do Esquadrão VP-74 da US Navy apoiado pelo Navio Tênder USS Barnegat, conseguiu localizar o U-513 ainda na costa do Brasil, a nordeste de Florianópolis, Ilha de Santa Catarina, ao interceptar uma transmissão de rádio da furtiva belonave alemã.
Imediatamente o piloto do Mariner, o Tenente-Capitão Roy Sheldon Whitcomb, inciou a manobra de ataque ao U-Boot, que apesar de estar bem equipado com armas anti-aéreas, recebeu dois impactos diretos que o levaram a afundar rapidamente.

Logo que soou o alarme, Guggenberger correu à ponte, avistou a aeronave inimiga se aproximando para atacá-lo e julgou ser tarde demais para submergir, ordenando imediatamente um contra-ataque.
O emblema do U-513 na proa da vela
Detalhe do emblema do U-513
Cinco marinheiros guarneciam o canhão antiaéreo de 37 milímetros e outros dois operavam o canhão de 20 milímetros. Enfrentando o fogo antiaéreo, o avião americano manobrou em diagonal sobre o inimigo. Lançando seis bombas de 225 quilos no U-513, a 15 metros da água. Duas acertaram o casco.
O impacto abriu um buraco de consideráveis proporções na proa do U-513. Dez segundos depois, quando a coluna de água erguida pelas explosões baixou, o submarino havia simplesmente sumido. Afundou em um piscar de olhos.
Os 46 homens em seu interior não tiveram a menor chance de escapar. Apenas os sete marinheiros que estavam na ponte e foram jogados ao mar se salvaram. Entre eles o Capitão Guggenberger.

O piloto registrou o ponto exato em que o submarino nazista desapareceu: 27 graus e 17 minutos de latitude Sul e 47 graus e 32 minutos de longitude Oeste. Saindo em linha reta desde a Ilha do Arvoredo, são 92 quilômetros.
Os sobreviventes subiram no bote salva-vidas lançado pelo avião americano e permaneceram à deriva por quase um dia, até serem resgatados pelo USS Barnegat.
Guggenberger fraturou quatro costelas e um cotovelo. Ao ser interrogado pelos militares norte-americanos, perguntou se o avião que o havia afundado era inglês ou brasileiro.

Ficou surpreso ao saber que era americano. “Ele demonstrou muita coragem nos atacando” declarou, conforme registros em um relatório da Marinha dos Estados Unidos.

O Comandante alemão não sabia que aeronaves dos EUA patrulhavam aquela região e decidiu permanecer com o U-513 na superfície e abrir fogo contra o avião, assumindo que “era brasileiro e provavelmente iria fugir ao contra-ataque antiaéreo”.

Três dias depois do ataque, ainda na enfermaria do USS Barnegat, Guggenberger pediu uma entrevista com o piloto que o havia afundado. Não houve qualquer constrangimento: Tanto os aviadores norte-americanos quanto os marinheiros alemães sabiam serem apenas peças de uma engrenagem muito maior. Em inglês fluente, o alemão o cumprimentou por sua vitória, mas concluiu que, se ele tivesse avistado Whitcomb antes, teria sido capaz abater seu avião. Além disso, Guggenberger admitiu que quando ele viu pela primeira vez o PBM, seu primeiro pensamento foi “Mas que lata velha!". Porém, foi esta “lata velha” pilotada por um obscuro Whitcomb, que acabou afundando o U-Boot do famoso herói alemão.

O episódio do U-513 serviu de pano de fundo para o romance histórico “A Última Viagem do Lobo Cinzento - Versenkt Im Südatlantik” do escritor brasileiro Telmo Fortes, publicado pela Editora Insular.
O afundamento de seu submarino, entretanto, não significou o fim da carreira de Friedrich Guggenberger.

Por causa de seus graves ferimentos, foi enviado para os Estados Unidos para tratamento ficando vários meses internado em um hospital, sendo transferido posteriormente para o campo de Prisioneiros “Papago Park”, nos arredores de Phoenix, Arizona.
Em Dezembro de 1944, ele e mais 24 tripulantes de submarinos alemães, incluindo Hans Werner Kraus, do U-199, empreenderam fuga.

Guggenberger foi recapturado em Janeiro de 1945, já próximo à fronteira com o México. 

Libertado em Agosto de 1946, formou-se arquiteto para regressar à Marinha Alemã em 1956. 

Graduou-se na Academia Naval de Newport, Estados Unidos e durante quatro anos serviu como Contra-Almirante da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Aposentou-se em 1972. 

Em maio de 1988 Friedrich Guggenberger entrou em uma floresta próxima a sua casa na aldeia de Erlenbach am Main, extremo noroeste da Baviera. Seria apenas mais um passeio, mas o ex-comandante desapareceu. Estava com 75 anos. Seu corpo só foi encontrado dois anos depois

Até hoje, a morte de Guggenberger continua envolta em mistério. Mistério que cerca, também a história dos cerca de dez submarinos alemães afundados na costa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial.

Em Julho de 2011 os destroços do U-513 foram localizados por pesquisadores brasileiros, 92 quilômetros ao leste da Ilha de Santa Catarina, a pouco mais de setenta metros de profundidade.


Vídeo: U-513 é encontrado a 85 quilômetros a leste de Florianópolis
Fontes:
http://guerra-abierta.blogspot.com
http://wikipedia.org
http://revistaepoca.globo.com
http://sixtant.net
www.tainhanarede.com.br
www.homemvitruviano.com.br
www.lexikon-der-wehrmacht.de

5 comentários:

  1. Ótima postagem, parabéns! Isso me fez lembrar um livro que tenho "Estórias navais brasileiras", vou tentar reler ele e preparar algumas postagens... parece que ele ainda está a venda a R$5,00 segundo este blog: http://tangatamanu.wordpress.com/2009/08/10/livros-marinheiros/

    Abraços!

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  2. Excelente história, não sabia dessa parte do Comandante, de ele estar mal informado de haver patrulhas aéreas na região.
    Minha avó e meu pai (criança na época) viajaram num desses navios Itagiba, acho, que na viagem de volta de Santos para o Nordeste foi afundado... Talvez eu não existiria se fosse afundado na viagem de ida...

    Xracer
    spinbrothers.blogspot.com

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  3. Parabéns pelo blog, gosto muito de acompanhar.
    Parabéns também pelo post que como os demais são muito interessantes e bem embasados e com boas fotos.

    Mais uma vez parabéns.
    Marcos

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  4. Muito boa matéria, parabéns, com muitas informações e belas fotos. Seguimos aguardando o documentário sobre o encontro deste submarino.

    Gilmar Teixeira
    Esteio R. G. S.

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  5. Ótima matéria, Li um artigo sobre os últimos submarinos alemães a se renderem na WWII ( https://fatosmilitares.com/artigos/ultimos-submarinos-alemaes/ ), recomendo também.
    Parabéns pelo site !

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