Encouraçado de Bolso Admiral Graf Spee

ARMAS 

Encouraçado de Bolso
Admiral Graf Spee

A Batalha do Rio da Prata

Pocket Battleship Admiral Graf Spee
The Battle of the River Plate

O Navio

Os termos do Tratado de Versalhes impediam a Alemanha de construir ou utilizar navios de guerra com mais de 10.000 toneladas  de deslocamento. Esta limitação tinha como objetivo tornar a frota de Kriegsmarine (marinha de guerra) o mais inofensiva possível.

Isto fez com que a engenharia naval alemã criasse uma nova categoria de barcos de guerra: Os "Encouraçados de Bolso".
Eram os navios da classe Deutschland, lançados pela Alemanha a partir de 1931.

A imprensa dos outros países referia-se à eles como "Encouraçados de Bolso", entretanto na Alemanha eram chamados "Navios Blindados".

O novo barco da Kriegsmarine recebeu seu nome em homenagem ao Vice-Almirante Maximilian Graf von Spee, Comandante da Esquadra de Cruzadores Imperial do Sudeste Asiático, morto durante combate naval nas Ilhas Falklands em 1914. Isto pode ser considerado um ironia do acaso, pois  25 anos depois, o navio Graf Spee foi posto a pique  no início de um conflito mundial e em águas não muito distantes daquelas que serviram de cenário para a morte de seu padrinho.

Lançado ao mar em 1934, o navio realizou treinos no Oceano Atlântico e efetou missões de patrulhamento durante a Guerra Civil Espanhola, com escalas nas Ilhas Canárias, Tânger, Vigo e Bilbao.

De 18 Abril a 16 Maio de 1939, esteve nos portos neutros de Ceuta e Lisboa, quando participava de manobras no Atlântico com os cruzadores "Deutschland", "Admiral Scheer", "Leipzig" e "Koln" e uma flotilha de submarinos. Regressando da Espanha, realizou a escolta da afamada "Legião Condor" alemã. 

Capaz de navegar com grande velocidade (28,5 nós de máxima), possuía um alto poder de fogo, apesar de suas reduzidas dimensões, resultando em uma embarcação de combate ágil e fortemente armada. 

Medindo 186 metros de comprimento e deslocando 16.200 toneladas, era dotado com o armamento principal de duas torres triplas montadas com  modernos  canhões de 280 mm, calibre superior ao de vários cruzadores de grande porte da época.

Sua velocidade máxima (28,5 nós) permitia que os Deutschland pudessem destruir, utilizando seus poderosos canhões principais, quaisquer navios mais rápidos - contratorpedeiros ou cruzadores ligeiros, por exemplo - ao mesmo tempo em que, com a sua velocidade poderia fugir de praticamente todos os navios armados com canhões maiores.

Outra inovaçao da classe Deutschland deu-se pela aplicação da propulsão acionada inteiramente a Diesel, apesar de vários problemas após o seu lançamento. A melhor eficiência dos propulsores fornecia mais autonomia, característica adequada à função prevista pelos alemães para os seus navios de superfície: destruir navios comerciais e de carga.

O Capitão

Hans Wilhelm Langsdorff, natural da lha de Ruden no Mar Báltico (1894). Seu pai exercia o cargo de magistrado local. Sua família tranfere-se para cidade de Düsseldorf no ano de 1898, tornando-se vizinha à família do Almirante Maximilian Graf von Spee. Supõe-se que, por influência dos filhos de Spee, o então jovem Hans incline-se a ingressar na Marinha Imperial Alemã, contrariando a vontade dos pais que esperavam ver o filho tornar-se juiz, para dar seqüência à carreira paterna. Em 1912 foi admitido na Academia Naval de Kiel e quando contava dois anos de estudos, inicia-se a Primeira Guerra Mundial. O então o Cadete Langsdorff é designado para servir no Encouraçado Grosser Kurfürst no posto de Cadete-Artilheiro. Em 1915 alcança a patente de Primeiro-Tenente, participando em 1916 da Batalha da Jutlândia, sendo condecorado com a Cruz de Ferro.


O Prelúdio de uma Batalha


Sua última viagem teve início em 21 de agosto de 1939 a partir das docas de Wilhelmshaven. O Graf Spee foi enviado para o Atlântico Sul. Em Setembro desse mesmo ano, com  o início do conflito pela invasão da Polônia, realizou vários ataques a navios nas águas do Atlântico Sul.

O Almirantado Britânico sabia, que no início de Outubro, o Graf Spee se encontrava no Atlântico e que havia afundado o vapor Clément, ao largo do Brasil. Vinte dias depois, os sobreviventes do navio norueguês Lorentz Hansen chegam às Orcades e comunicam que seu navio fora destruído pelo irmão gêmeo do Graf Spee: o Deutschland. Dois couraçados de bolso, portanto, estão em ação: um no Atlântico Norte, outro no Sul. Temíveis navios, obras-primas da construção naval germânica: canhões de 11 polegadas, blindagem de 10 cm, máquinas que os propulsam a até 28,5 nós e deslocamento de apenas 16.000 toneladas, resultante da economia de peso derivada da substituição de solda pelo rebite.  Era uma grande ameaça e deveria ser eliminada dos mares a qualquer preço.
Os dois navios são idênticos, porém seus comandantes  são diferentes.  Enquanto o do Deutschland conduz-se com excessiva prudência e regressa a Willhelmshaven a 11 de novembro com magro quadro de caça,  Langsdorff no Graf Spee, aplica-se e obstina-se. Apesar disto sua conduta é irrepreensível: nenhum navio é afundado antes de ser completamente evacuado e os prisioneiros são recebidos com consideração, sendo acomodados o melhor possível no navio Altmark, que acompanha o couraçado na  função de reabastecedor. Langsdorff ainda derramou nenhuma gota de sangue.
As frotas aliadas mobilizam forças imensas para caçar dois Corsários, quando na realidade havia apenas um: oito divisões navais, compostas de couraçados, cruzadores e porta-aviões, iriam cobrir setores que iam do Ceilão às Antilhas. Em 22 de outubro, um pedido de SOS proveniente do SS Tevanion cria a expectativa de que o cerco se aperte ao redor do couraçado alemão. Todavia, passam-se dias e semanas e o Graf Spee não está em parte alguma da imensidão de mares varrida pelos britânicos.
Para despistar os perseguidores, Langsdorff realizou um imenso desvio pelo Oceano Índico. Regressa ao Atlântico parcialmente satisfeito com seu cruzeiro. Seus recursos estão esgotando-se e a partir de 30 de Setembro ele só consegue pôr a pique 9 cargueiros, totalizando 50.000 toneladas. Pouco para um navio tão poderoso. Precisa regressar à Alemanha,  mas ainda pretende ampliar o seu escore nas águas agitadas de tráfego no Rio da Prata.

A Batalha

3 de Dezembro de 1939 - 6:08 - o Graf Spee está a 150 milhas de Montevidéu e seus vigias divisam fumaça na linha do oceano. Langsdorff aproxima-se pela proa, convencido de se tratar um nova presa. Oito minutos após reconhece a embarcação avistada como uma nave de guerra. Suas ordens lhe prescrevem evitar combate, porém a fuga é difícil, na manhã de um longo dia de verão. Langsdorff se considera bastante forte para impor-se rapidamente ao cruzador leve cuja superestrutura se desenha no horizonte. Instantes depois, dois outros navios se tornam visíveis por sua vez, sendo tarde demais para fugir. O alemão tem o sol contra os olhos, mas a visibilidade é excelente, o vento moderado e ligeira corrente marítima vem do nordeste.
 O primeiro cruzador avistado pelo Graff Spee é o Ajax, com canhões de 6 polegadas. O segundo, da mesma força-tarefa, é o Achilles, da Marinha neozelandesa. O terceiro é o Exeter, armado de canhões de 8 polegadas. Eles constituem, sob o comodoro Harwood, a força G - uma das menores, por não contar com couraçados e porta-aviões. Ademais, o quarto navio da divisão o cruzador Cumberland, se reabastece nas Falklands. Sozinho contra três, Langsdorff ainda possui, no entanto, grande superioridade sobre os adversários. Tem as melhores chances de destruí-los, um após o outro, sem que o Graf Spee sofra avarias.

Às 6:14h inicia-se o combate. A distância entre o Graf Spee e seus adversários é de 19 km.

Uma hora e meia após, termina a ação. O Exeter, com três de suas quatro torres destruídas, fortemente adernando a bombordo, interrompe a luta e tenta penosamente voltar à Port Stanley, nas Falklands. Os dois cruzadores ligeiros combatem com extraordinária persistênsia, trazendo para perto de si, um adversário cuja artilharia secundária é equivalente à principal deles. Aproveitando-se do duelo entre o Graf Spee e o Exeter para atingir repetidamente, o encouraçado inimigo. Mas também sofrem danos: leves no Achilles e graves no Ajax. Estão sozinhos diante de uma poderosa belonave, cujo poder de combate mantém-se intacta e sem nenhuma superioridade senão ligeira vantagem em velocidade. O Graf Spee pode coloca-los a fugir.  Todavia, é o couraçado que se põe em fuga.

A Retirada para Montevidéu

As suas avarias são graves, embora não o coloquem em perigo. As cozinhas estão destruídas, o casco está furado, parte da artilharia foi inutilizada e o barco está cheio de feridos. Um espírito menos obstinado do que Langsdorff se faria ao largo e tentaria evadir-se, desaparecendo na imensidão deserta do oceano. Porém o humanitário comandante do Graf Spee, que considera absurda a guerra, espera encontrar uma enseada onde possa reparar sua nave e desembarcar os homens feridos. Trinta e seis tripulantes estão mortos. Montevidéu, no Uruguai, está próxima. Ruma o Graf Spee em sua direção. É uma armadilha. Os dois pequenos cruzadores vitoriosos estão no seu encalço, no limite das águas territoriais uruguaias. Voltando, apressadamente das Falklands, o Cumberland dá-lhes reforço no dia seguinte.

Os três dias que se seguem inflamam o mundo. O Almirantado inglês alardeia o glorioso combate dos três cruzadores. A curiosidade pública espera, avidamente, a peripécia seguinte.

Hitler, encolerizado, bombardeia Langsdorff com radiogramas: acusa-o de covarde, pondo-o sob suspeita de alta traição. Quer que tire o Graf Spee de Montevidéu e o afunde com o pavilhão hasteado. Mas Langsdorff recusa sacrificar seus homens, resistindo ao embaixador alemão no Uruguai e aos agentes nazistas vindos de Buenos Aires. As 72 horas de prazo que obtivera do Governo uruguaio esgotam-se. 

Torna-se necessário que ele deixe Montevidéu ou que aceite o internamento, expressamente vetado pelo Fuhrer nazista.

A Última Partida
No dia 17 de dezembro, às 17:30 , imensa multidão acorre ao cais de Montevidéu. O Graf Spee está de partida. Nenhum reforço aliado chega ao Achilles, ao Ajax e ao Cumberland que estão com o toque de combate a ressoar.

Entretanto, Langsdorff desembarcou a maior parte de sua tripulação e é um grupo de afundamento que conduz o magnífico navio ao meio do estuário do Prata para a glória do sol poente. Ouvem-se duas, três explosões ensurdecedoras. O Graf Spee afunda lentamente em águas tão pouco profundas e por muito tempo seus destroços poderão ser vistos à flor da água.

Langsdorff foi o último a abandonar seu navio.
Logo após o cruzador ter sido posto a pique, o Capitão Langsdorff libertou todos os prisioneiros dos navios afundados durante sua longa missão. Entre eles, o Capitão Dove, do navio mercante Africa Shell, que recebeu de Langsdorff duas insígnias de boné de marinheiro do Graf Spee como recordação.
A bordo do navio de apoio, Dove e Langsdorff cumprimentaram-se uma última vez, desejando-se mutuamente boa sorte para os tempos vindouros.



Um Triste Epílogo


Com autorização das autoridades uruguaias, a tripulação do Graf Spee - mais de 700 homens - segue para Buenos Aires a bordo de três rebocadores. Junto com eles, vão Langsdorff e a oficialidade do navio.

Os marinheiros alemães permanecerão na Argentina em regime de internamento até ao final das hostilidades. Muitos deles fixariam residência naquele país após o encerramento do conflito.

No dia seguinte a chegada à Argentina, o Comandante Langsdorff  visita seus homens, acompanhado por seus oficiais. Passa-os em revista e exorta-os, no que seria seu último pronunciamento à tripulação, ao cumprimento do dever e a lealdade à pátria distante. Ao anoitecer deste mesmo dia, suicidou-se com um tiro na cabeça, nos aposentos que ocupava no Arsenal Naval de Buenos Aires. Foi encontrado trajando o uniforme de gala e enrolado com a Kaiserlichen Reichskriegsflagge (bandeira Imperial de Guerra alemã). Cumpriu, como comandante, a tradição de não sobreviver à sua nave.
Seu funeral foi presenciado por uma multidão e seu túmulo é cuidado ainda hoje. Muitos consideram-no um dos últimos exemplos de caráter e cavalheirismo no respeito pelas regras de guerra.

Hans Langsdorff, deixa escritas as seguintes palavras:

"Agora posso provar, por meio da minha morte, que as forças do Terceiro Reich estão prontas para morrer em honra de sua bandeira. Sou o único responsável pelo afundamento do Encouraçado de Bolso Almirante Graf Spee. Sinto-me feliz de oferecer minha vida em troca de qualquer dúvida que possa surgir acêrca da honra de minha bandeira."
Os alemães ficam tão desiludidos com o aparente insucesso do conceito de Panzerschiffe (navio blindado) que Hitler, sob o receio de que o que acontecera ao Graf Spee  também sucedesse ao Deutschland, o decano dos couraçados de bolso, originalmente batizado com o simbólico nome da pátria , dá a ordem para que se o renomeasse com o nome de Lutzow.

Todavia, a campanha do Admiral Graf Spee, curta, mas frutífera, confirmou a eficiência dos planos traçados pelo Almirante Raeder, chefe da Kriegsmarine. Esses planos, concebidos para hostilizar os barcos mercantes dos aliados e conseguir a dispersão das unidades pertencentes à frota de guerra britânica, haviam sido compridos plenamente. Com efeito, grande quantidade de belonaves britânicas teve que ser deslocada para o Atlântico Sul e para o Índico, onde se supunha operar o navio alemão.